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Americanas, 6 meses depois: como chegamos até aqui

Há exatos seis meses a Americanas comunicava ao mercado que havia detectado inconsistências em lançamentos contábeis estimadas em R$ 20 bilhões, com data-base de 30 de setembro de 2022.

Era o início da maior fraude da história corporativa do Brasil.

Janeiro de 2023: o mês que não terminou

A notícia do rombo, que veio acompanhada do pedido de demissão do diretor-presidente da empresa, Sergio Rial, chocou o mercado.

No dia seguinte, a resposta veio forte: as ações da varejista despencaram quase 80%, com perda estimada de US$ 8 bilhões em valor de mercado.

A partir daí, o cenário só piorava, à medida que a própria empresa criava um comitê de apuração interna, enquanto os acionistas denunciavam a companhia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para apurar responsabilidades da empresa de auditoria PwC, encarregada de analisar os balanços da varejista.

Em meio a isso, a Americanas anunciava que as inconsistências detectadas no balanço deveriam levar a empresa a uma dívida da ordem de R$ 40 bilhões.

Ao mesmo tempo, a varejista conseguia proteção na justiça contra bloqueio de ativos e cobranças de credores, em um primeiro sinal de possível pedido de recuperação judicial.

Em 16 de janeiro, o presidente interino da companhia, Sérgio Rial, foi substituído pela empresa Rothschild&Co como interlocutora da companhia na renegociação da dívida.

No mesmo dia, a agência de risco S&P Global rebaixou a nota de crédito da empresa de “B” para “D”, o que indicava situação de calote.

No dia 19 daquele mês, a Americanas deu entrada em um pedido de recuperação judicial que, futuramente, seria classificado como um dos maiores da história do país.

Enquanto bancos credores recorriam à justiça para recuperar a dívida da empresa, o trio de acionistas da varejista — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira — afirmava publicamente que desconhecia quaisquer manobras e dissimulações contábeis na companhia.

Em 26 de janeiro, a Justiça de São Paulo autorizou o pedido de busca e apreensão na Americanas expedido pelo Bradesco, como forma de obtenção de provas de possível fraude na gestão da companhia.

No dia 31, após pedir proteção contra cortes de telefone e luz, a Americanas dava início a demissões em Porto Alegre e no Rio de Janeiro.

Fevereiro a maio

O mês de fevereiro começou com a equipe de administração judicial da Americanas atualizando o valor total da dívida da companhia para R$ 47,9 bilhões.

Dois dias depois, a varejista anunciou o afastamento de toda a diretoria, cujos nomes eram alvo de investigação por parte da CVM por possível uso de informações privilegiadas para recebimento de bônus.

A Americanas encerrou o primeiro trimestre de 2023 com autorização de empréstimo bilionário e atraso na entrega do balanço de 2022.

Em acordo, a varejista suspendeu disputas judiciais com credores em abril.

Em maio, o diretor afastado da companhia, José Timotheo de Barros, renunciou ao cargo.

Americanas assume fraude em junho

Em 13 de junho, a investigação interna conduzida pela Americanas apontou que a antiga diretoria tinha conhecimento da fraude contábil ocorrida na empresa.

O documento foi elaborado por assessores jurídicos que acompanham a varejista desde que ela entrou em recuperação judicial, e foi apresentado ao conselho de administração da empresa.

O relatório apontou que as demonstrações financeiras da empresa vinham sendo fraudadas pela antiga diretoria da companhia, que atuou até o fim do ano passado.

Além disso, foi descoberto que os executivos trabalhavam em conjunto para esconder o esquema de fraude e forjar o aumento dos lucros da empresa, o que resultava em pagamentos astronômicos de bônus.

Especialistas afirmaram que um rombo de aproximadamente R$ 21,7 bilhões teve origem em verbas publicitárias tradicionalmente negociadas entre a indústria e o varejo.

Ao todo, foram R$ 20,6 bilhões de fraude em empréstimos que a Americana tomava — esquema conhecido desde janeiro de 2023, quando o então CEO da empresa, Sérgio Rial, renunciou ao cargo.

Apesar das informações divulgadas no relatório, o documento dizia não ser possível afirmar qual era o nível de conhecimento de cada sócio em relação aos números da companhia.

Após reconhecer a fraude, as ações da Americanas dispararam cerca de 20% na abertura do pregão do mesmo dia.

Longo caminho pela frente

Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, destaca que os números da Americanas estão em queda expressiva e que a varejista deve fechar mais lojas daqui para frente.

“O faturamento das lojas físicas caiu, mas não muito. Por outro lado, no digital, temos R$ 1,2 bilhão em dezembro de 2022 contra apenas R$ 100 milhões em abril de 2023. Isso representa uma queda muito expressiva, de 90%”, explica.

“A Americanas tinha quase 2 mil lojas, não tem como ter isso tudo com uma dívida desse tamanho e em meio de um processo de recuperação judicial. Ela já fechou 29 lojas, mas vai ter que fechar muito mais”, afirma.

Na visão de Ferrer, há uma série de fatores que explica a diminuição das compras na loja digital, que vão desde preços pouco atrativos até o receio dos clientes de não receberem o produto.

“A loja física está lá, você sabe que vai receber o produto, ao contrário da virtual”, explica.

Por outro lado, no que diz respeito aos credores, o analista diz que a situação está caminhando para evoluir mais.

“Há uma expectativa de que a empresa faça uma assembleia em agosto e comece a aprovação do plano de reestruturação”, diz.

Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos, avalia que as investigações da fraude na Americanas ainda devem se estender por muito tempo.

“Com certeza é uma operação bastante longa, que vai levar muito tempo. A gente tem que ver se, de fato, surtirá algum efeito”, afirma.

Paulo destaca que a varejista levará muitos anos para se recuperar. “Talvez depois que a empresa estiver ajustada possa haver uma consolidação de mercado”, afirma.

“As margens do setor de varejo estão bastante espremidas, então não cobre o custo de capital. Por isso, é muito importante monitorar isso, porque pode haver algum estresse no mercado futuramente por causa desses fatores também”, diz.

No entanto, para Paulo, o caso Americanas passou uma grande lição para o mercado como um todo, que deve passar por melhorias na parte contábil.

“Também vale citar que a auditoria independente da época que deixou passar esse rombo com certeza também vai acabar sofrendo alguma penalidade”, conclui.

Fonte: CNN, com informações de Fabricio Julião e Fernando Nakagawa.

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